A Política dos Outros
O Cotidiano dos Moradores da Periferia e o que Pensam do Poder e dos Poderosos
São Paulo: Brasiliense
1984
Available Languages:
Portuguese
Peripheral Urbanization
A Política dos Outros reconstructs the history of São Paulo’s urbanization since the end of nineteenth century. It shows that the periphery was formed after the 1940s on the basis of the dissemination of home ownership for the working classes in the precarious hinterland, without urban infrastructure, usually on the basis of illegal land sales and settlement, and always without any type of government support. In short, the periphery was based on autoconstruction and illegality. The book details this process from the perspective of one of São Paulo’s poorest neighborhoods, Jardim das Camélias. The research combined two different methodologies. First, it used a survey covering half of the 900 families and approximately 5,000 residents of Jardim das Camélias in 1980. As far as I know, this was the first comprehensive survey done in a peripheral neighborhood in São Paulo, and it remains one of the few available. Its analysis focuses on the residents’ insertion in the labor market and on the occupational composition, income, and surviving strategies of households. It also discusses families’ consumption strategies through an analysis of their most important consumption project: the construction, extension, and decoration of their houses through the long-term process of autoconstruction. Second, the study used in-depth interviews with residents to analyze their views of society and politics. It discusses their perceptions of social inequality, social mobility and its mechanisms, work, political power, and political participation. The analysis highlights their critical view of Brazilian society. Their critique was expressed, not surprisingly, with images rooted in their daily experiences of exploitation in the city. By unveiling the logic of working class critique of Brazilian society and how the engagement with city building rather than with the workplace became the root of their political organization and efforts of urban transformation, this study represented a strong critique of the Marxist paradigm that at that time was hegemonic for the analysis of working class politics in Latin America. Moreover, it constitutes a statement of the way in which anthropological tools can be used to produce an innovative understanding of contemporary political and urban phenomena in modern societies.
A Política dos Outros reconstrói a história da urbanização de São Paulo desde o final do século XIX. Mostra que a periferia foi formada a partir dos anos 1940 com base na disseminação da propriedade privada para as classes trabalhadoras em áreas nas bordas da cidade, sem infraestrutura urbana, com base na aquisição de lotes de terra irregulares e muitas vezes vendidos ilegalmente, e sem quase nenhum apoio do poder público. Em suma, a periferia formou-se com base na autoconstrução e na ilegalidade. O livro detalha esse processo a partir da perspectiva de um dos bairros mais pobres de São Paulo, o Jardim das Camélias. A pesquisa combinou duas metodologias diferentes. Primeiro, utilizou um survey abrangendo metade das 900 famílias e aproximadamente 5.000 moradores do Jardim das Camélias em 1980. Até onde sei, este foi o primeiro survey detalhado de um bairro periférico de São Paulo, e continua sendo um dos poucos disponíveis. Sua análise enfoca a inserção dos moradores no mercado de trabalho, a composição ocupacional dos domicílios, a renda e as estratégias de sobrevivência das famílias. Discute ainda as estratégias de consumo das famílias através da análise de seu projeto de consumo mais importante: a construção, extensão e decoração de suas casas por meio do processo de longo prazo da autoconstrução. Em segundo lugar, o estudo usou entrevistas em profundidade com moradores para analisar suas visões da sociedade e da política. Ele discute suas percepções de desigualdade social, mobilidade social e seus mecanismos, trabalho, poder político e participação política. A análise destaca sua visão crítica da sociedade brasileira. Sua crítica é expressa, não surpreendentemente, através de imagens enraizadas em suas experiências diárias de exploração na cidade. Ao revelar a lógica da crítica das camadas trabalhadoras à sociedade brasileira e como seu engajamento na construção da cidade (ao invés do foco no trabalho) se tornou a raiz de sua organização política e esforços de transformação urbana, este estudo representou uma forte crítica ao paradigma marxista que naquela época era hegemônico para a análise da política da classe trabalhadora na América Latina. Além disso, constitui um exemplo de como as ferramentas antropológicas podem ser usadas para produzir uma compreensão inovadora dos fenômenos políticos e urbanos contemporâneos nas sociedades modernas.